A metodologia popperiana é toda baseada em conjecturas, ou seja, teorias
que são enunciados ou hipóteses, que por sua vez serão testadas,
principalmente no campo empírico. A proposta colocada é então de uma
análise do método que será usado para tais testes. Vale ressaltar que,
em Popper, o objetivo principal da ciência, e que dá sentido a ela, é o aumento de conhecimento e a maior possibilidade de verossimilhança,
e no caso da tentativa de se propor uma nova conjectura (teoria), é
obrigatório que esta tenha mais conteúdo teórico que a teoria anterior.
Porém ao aumentar o conteúdo empírico de uma conjectura, abrimos à
possibilidade desta ser cada vez mais falseável, mas por outro lado é
justamente essa possibilidade de falseabilidade que leva à ciência a
estar em constantes mudanças, fator que demonstra uma das significativas
mudanças na ciência, que o autor propõe.
Costuma-se caracterizar as ciências empíricas por usarem
métodos conhecidos por indutivos, onde repetidas observações, com
repetidos resultados levam a comprovação da teoria. O primeiro problema
indutivista se dá quando se tenta passar de enunciados singulares, de
algumas observações, para enunciados universais, quer dizer quando força-se a generalização.
Um exemplo clássico é o caso dos cisnes brancos, por mais que se tenha
observado um grande número de cisnes e todos os observados serem
brancos, não necessariamente pode-se de tal observação se afirmar que
“TODOS os cisnes são brancos”. Diante da óbvia falta de justificativa
dos indutivistas restou-lhes a tentativa de sustentar a idéia da possibilidade,
onde um experimento determinaria uma teoria como “mais provável” ou
“menos provável”, dependendo para isso ou aquilo apenas os resultados
obtidos, sairíamos assim do principio da indução como “verdade” para ser
agora mais ou menos “provável”. Contudo para Popper, isso significaria à ciência um inútil regresso, e por conta disso sua metodologia vai se opor a esse método, defendendo o dedutivismo, em contra-senso ao indutivismo, e nesse caso pra início de conversa, o experimento não daria luz à teoria, mas o contrário, o teste de uma dada hipótese só ocorreria após a formulação teórica dessa hipótese (teoria).
Em suma, o dedutivismo de Popper fará o caminho inverso do indutivismo,
enquanto este último parte da experiência para só depois apresentar a
teoria, e com isso encontra o problema de passagem para a universalidade
(teoria) a partir do particular (experimento), o dedutivismo defenderá
que antes da experimentação faz-se necessário a formulação da hipótese,
no caso o problema indutivista é rompido, já que agora se parte do
universal (da teoria) para o particular (para a experiência), o que
logicamente é válido.
Entendendo teorias científicas como enunciados universais, e
que seu propósito maior é a racionalização do mundo (ou natureza), e a
tentativa de melhor explicá-lo e dominá-lo, pretende-se buscar o melhor método de testá-las.
Partindo-se de uma nova idéia, na verdade uma hipótese, que de alguma
forma não foi justificada, retira-se dela conclusões por meio de
deduções lógicas, e assim comparam-se estas conclusões entre si e com as
próprias hipóteses, ou enunciados, com o intuito de observar as
relações, como equivalência e compatibilidade que possam existir entre
elas. Dentre alguns diferentes procedimentos, existe o teste por meio de aplicações empíricas das conclusões que foram deduzidas a partir das hipóteses; o fim desejado por esse tipo de teste é a verificação de até que ponto as conclusões da teoria satisfazem sua aplicação prática. A partir daí se extrai da teoria aplicações singulares dedutivamente,
e são justamente esses enunciados (aplicações) singulares que serão
expostos a testes experimentais, e que ao obterem êxito, a teoria passa
pelo seu teste, não é descartada, é então corroborada, caso contrário, se não passa nos testes esses enunciados são falseados,
e consequentemente falseiam a teoria da qual foram obtidos
dedutivamente, já que afirmando algo num conjunto universal, se tiro
dele como conclusão um conjunto singular e o considero falso, logo a
afirmação universal de onde foi retirada a singular também é falsa, é
como se dissesse “Todos os cisnes são brancos”, e daí verificar uma
grande quantidade de cisnes brancos, mas o primeiro cisne preto que
fosse verificado faria com que toda essa hipótese fosse tida como falsa.
Vale ressaltar que caso seja corroborada a teoria, essa corroboração é
temporária, pois testes futuros, propostos por teorias posteriores podem
vir a falseá-la.
Foram aqui introduzidos dois conceitos, que dada suas
importâncias, merecem melhor esclarecimento, são eles: falseacionismo e
corroboração. O último diz-se não da comprovação de verdade, como diria o
nosso velho dicionário Aurélio, mas de uma temporária aceitabilidade, onde se usou inúmeros testes procurando a falseabilidade
de uma dada teoria, não a encontrando, ela é corroborada, mas nada a
impede de ser superada por outra teoria dado o progresso científico. Já a
falseabilidade acontece, quando numa teoria é descoberto um fato que a
desmente, ou seja, quando se pode deduzir dessa mesma teoria um
enunciado singular mais ou menos como uma predição que não verifica a
teoria, como o exemplo dos cisnes citada acima. Sendo assim, para
Popper, ao invés de tentarmos provar uma teoria buscando uma possível
verdade é mais interessante forçar o seu falseamento, pois caso isso não
se dê, estará corroborada a teoria. Isso porque a proposta popperiana é
de uma assimetria entre verificabilidade e falseabilidade, como
resultado de enunciados universais, pois estes nunca são resultados de
enunciados singulares, como acontece no indutivismo, mas os enunciados
singulares podem derivar dos universais, e podem falsear toda uma
teoria, para isso bastando apenas à ajuda do método dedutivo da lógica
clássica chamada Modus Tollens, onde um enunciado X implica Y, e dada a negação de Y, temos como conseqüência a também negação de X.
Apresentado grosso modo, o método, dentre as muitas objeções
que se pode ter, está em se poder dizer que Popper rejeitando a indução
retira das ciências empíricas a sua característica, aparentemente, mais
importante, que é o experimento como ponto de partida para uma teoria. No entanto, o motivo da rejeição do indutivismo só se dá por este não proporcionar um critério de demarcação apropriado
e, além disso, se bem observado for, Popper, não rejeita por inteiro a
experiência, mas a coloca num outro lugar, mais ou menos como segundo
plano em sua metodologia, claro que não deixa de ter sua importância,
pois somente através dela se pode falsear uma teoria, e esse fator è de
extrema importância para desenvolvimento da ciência. Que Popper chama
“problema da demarcação” nada mais é se não um critério que nos faria
distinguir ou diferenciar ciências empíricas, ciências formais
(matemática e lógica) bem como sistemas metafísicos. A possível solução
para esse problema é então a proposta de um conceito de ciência, de modo
que fique bem clara a demarcação entre ela e a metafísica. E certo é
que um sistema ou uma teoria só é dada como cientifica ou empírica se for disponível a testes experimentais,
assim seu critério de demarcação deixa de ser sua verificabilidade
(comprovação de uma suposta verdade) para ser sua falseabilidade, ou
seja, o que exigido de uma teoria cientifica ao ser colocada em teste
não é que se verifique positivamente, mas que abra possibilidade de ser refutada,
visto que não é interessante para a ciência, do ponto de vista do
acúmulo de conhecimento, que ocorra uma estagnação na mesma, quero dizer
que dada uma teoria, sendo esta tida como absoluta verdade, teremos
vários problemas, primeiro que não será preciso haver nenhuma espécie de
produção cientifica, já que teria se entendido aparentemente tudo,
segundo, nenhum homem teria como atestar verdade absoluta a essa teoria e
terceiro teríamos nesse momento uma ciência dogmática. Sendo assim
buscar o falseamento da teoria é a melhor maneira de testá-la, além de
melhor promover o desenvolvimento científico.
Com isso temos que, o objetivo principal da ciência é
alcançar a maior possibilidade de verossimilhança como grau de
aproximação de uma teoria com a verdade, já que não se pode atestar
verdade a uma teoria, como já foi dito anteriormente atribui-se,
portanto maior ou menor grau de verossimilhança. Para que as
teorias se aproximem então mais da verdade, no sentido de
verossimilhança, claro, é necessário que novas teorias estejam sendo
produzidas e consequentemente que os conteúdos empíricos destas estejam
também em constante crescimento. Assim a nova teoria deve ser mais
simples que a atual, ser independente desta, ter maior possibilidade de
testes, além de resistir a novos testes. Que seja observado que o
interesse aqui não é simplesmente o de acúmulo de observações, mas sim a
busca de um aspecto particular da ciência, seu crescimento e sua sede
de progresso, através de um aumento no conhecimento, pois quando uma
teoria é substituída por uma outra o que ocorre é uma melhor compreensão
do mundo e uma resposta mais satisfatória aos problemas científicos;
sendo que cada nova teoria, além de trazer mais conteúdo empírico, traz
consigo também outros problemas, o que faz com que a ciência esteja em
constante reconstrução. Um exemplo desse fator pode ser percebido no
decurso histórico, as teorias de Kepler e Galileu, que após se
unificarem foram superadas pelas de Newton, que mais tarde também foram
superadas pela Teoria da Relatividade de Einstein, que por enquanto não
foi refutada, mas que pode ser a qualquer momento. É interessante
ressaltar que todas essas teorias foram inicialmente formuladas e só depois expostas a testes,
pelos quais foram corroboradas, e algumas com o surgimento de uma
melhor explicação, falseadas. Um outro fator importante é que a ciência
origina-se com problemas, não com observações, pois é quando preciso de
uma resposta que busco a solução, assim sendo cabe ao cientista procurar
resolver esse problema, elaborando uma hipótese que aparentemente a
resolva, mas não esquecendo que essa nova teoria trará consigo um novo
problema, o que leva-nos a concluir que, a maior contribuição que uma
teoria dá para o crescimento cientifico é o novo problema que levanta,
dessa forma a teoria se inicia e se conclui sempre com problemas.
Enfim, a metodologia popperiana, ao negar o indutivismo,
propõe uma ciência longe da subjetividade, mas essa mesma ciência que
não é subjetiva é empírica, porém não tem seu início na observação ou
experimentos e sim no levantamento de hipóteses ou na formulação destas.
Colocadas em testes, as teorias não se pretendem verificar, mas serem
falseadas, levantando sempre novos problemas, que por sua vez levarão a
ciência a estar em constante renovo e mudanças e consequentemente se
desenvolvendo, até porque se se busca uma verdade, quem poderá atestá-la
como tal, e ainda, caso tivesse alguém que o fizesse, com uma verdade
atestada decretado estaria o fim da ciência, pois estaria aí acabado a
idéia de dúvida, de algo a ser explicado sobre alguma coisa.